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"Estou mal", revelou Firmino Filho para chefe três dias antes de morrer

📷Davi Fernandes 

O GP1 teve acesso ao processo de mais de 500 páginas da investigação acerca da morte do ex-prefeito de Teresina, Firmino Filho, que foi arquivado pelo juiz Valdemir Ferreira Santos, que também decretou a quebra de sigilo do inquérito policial, liberando assim, para publicidade, todos os depoimentos prestados no âmbito da investigação.

No transcorrer do procedimento, a Polícia Civil do Piauí, por meio do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), ouviu 17 pessoas, dentre elas, a esposa do ex-prefeito, deputada Lucy Soares, a filha Bárbara da Silveira Soares, o filho Bruno da Silveira Soares, e a então chefe de Firmino no Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Lúcia Epaminonda. O depoimento de Ana Lúcia foi um dos mais reveladores, onde ela narra que, em conversas com o ex-prefeito ele afirmava estar "muito mal", tendo admitido inclusive estar com depressão desde dezembro do ano passado.

A polícia ouviu ainda oito funcionários do TCU, sete que estavam presentes no prédio no momento da morte de Firmino, e outro com quem o ex-prefeito entrou em contato a respeito de uma licença médica.

Também foram ouvidos um advogado que também estava no TCU na ocasião, um personal trainer, a secretária e o vigilante da casa de Firmino, além do médico do ex-prefeito, Marcelo Martins, que foi chamado para depor, mas nada declarou, alegando estar proibido de prestar qualquer esclarecimento sobre fatos envolvendo a relação médico e paciente, conforme o Código de Ética Médica.

Confira alguns trechos dos principais depoimentos:

Lucy Soares

📷Foto: Lucas Dias

A esposa de Firmino Filho afirmou que a família, que residia em uma casa no bairro Ininga, estava de mudança para um apartamento, e que o ex-prefeito ainda dormia na antiga residência para cuidar dos cães. Ela contou que na noite que antecedeu a tragédia jantou e ficou assistindo televisão na companhia do marido no apartamento, que mais tarde ele foi para a antiga casa.

Já na manhã do outro dia, eles se encontraram no apartamento, Firmino já pronto para ir ao trabalho no TCU. Ela disse que não notou nada de diferente nele naquela última vez que o viu, contudo, a deputada revelou que desde fevereiro deste ano percebia o marido muito triste, mas não sabia dizer se ele estava sofrendo de depressão.

“A depoente chegava até a perguntar para ele se ele tinha alguma coisa, que Firmino apenas dizia que estava triste. A depoente ainda o animava, falando: ‘Deixa de tristeza, vamos para luta’. Perguntava para Firmino o motivo da tristeza, mas ele não relatava especificadamente o motivo. A depoente chegou até a orientar Firmino a conversar com alguém. A depoente aconselhou Firmino a viajar, a ir para casa do irmão da depoente em Recife, mas ele disse que não podia por causa do TCU, inclusive, fizeram planos de viajar, mas em razão da pandemia não deu certo. A depoente não sabe dizer se Firmino estava com depressão”, diz um trecho do depoimento.

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Bárbara da Silveira

📷Foto: Marcelo Cardoso

A filha do ex-prefeito afirmou que não tinha dúvidas de que de fato o pai havia tirado a própria vida, mas que desconhecia qualquer razão que possa ter motivado a tragédia.

“Destacou que não sabe de qualquer possível motivo que poderia levar o seu pai a se matar. Afirmou que não tem dúvida de que foi suicídio. Disse que acredita que, por todas as circunstâncias apresentadas, o seu pai se matou. Falou que seu pai não deixou qualquer mensagem ou carta para qualquer membro da família. Ressaltou que o pai da depoente era muito introspectivo, de falar pouco. Por fim, disse que acredita que não tem necessidade de a polícia apurar a morte do seu pai”, consta no depoimento.

Bruno da Silveira

O filho disse em depoimento que tinha visto Firmino na noite anterior a sua morte. Ele estava em seu quarto no apartamento quando o pai abriu a porta, olhou para ele e saiu fechando a porta. Bruno afirmou que, embora não passassem muito tempo juntos, nos últimos dias não tinha notado comportamento diferente em Firmino.

“O depoente, nos últimos dias, não notou nada de diferente no comportamento do pai do depoente. O depoente não passava muito tempo com o pai, que o pai do depoente nunca contou para o depoente de qualquer problema, seja financeiro ou familiar. Que o pai do depoente era muito fechado e calado. Que ele não falava muito com o depoente sobre problemas, que o pai do depoente nunca relatou que estava recebendo alguma ameaça de alguém. Que o depoente não sabe dizer se o seu pai estava com depressão e que o pai do depoente nunca relatou para o depoente que estava com depressão”, relatou Bruno da Silveira.

Ana Lúcia Epaminonda, chefe de Firmino

Foi no testemunho da chefe do ex-prefeito que apareceram mais indícios de que ele estava sofrendo de depressão. Segundo a servidora do TCU, no mês de março Firmino disse que estava com depressão desde dezembro do ano passado.

“Ele falou assim: ‘Não é que euestou com depressão desde dezembro e eu estou com acompanhamento médico, mas a medicação que eu tomo tá [sic] afetando a minha memória’, aí ele falou isso: ‘Mas eu não quero que você fale isso pra ninguém’”, afirmou.

Já no dia 01 de abril, Firmino Filho confessou para Ana Lúcia que não estava bem. “Aí, na quarta ele falou assim: 'Ana, eu estou mal, eu estou mal’, aí eu achei estranho, né. ‘Eu tô pensando em tirar licença médica porque o meu médico falou’", relatou a chefe do ex-prefeito.

Dois dias depois, no dia 03 de abril, Ana Lúcia revelou que Firmino lhe ligou desesperado. “Ele ligou de novo: ’Ana, estou mal, eu estou me sentindo mal’. Só que aí eu já não estava entendendo, porque na quarta-feira a gente já tinha conversado sobre isso e já tinha falado sobre essa possibilidade dele sair de licença, aí eu falei assim: ‘Firmino, você vai ao médico, pega a licença, você sai, quando você voltar, o trabalho já vai testar adiantado’ [...] E eu escutava a voz da família dele em volta e eu até pensava assim, eu pensei né, ‘Poxa, a família tá aí do lado e eles não estão vendo que ele está sofrendo?’", declarou.

Morte

O ex-prefeito de Teresina foi encontrado morto no dia 06 de abril na frente do edifício Manhattan River Center, local onde funciona a sede do Tribunal de Contas da União (TCU), onde ele reassumiu sua função como auditor depois de deixar a prefeitura da capital, em janeiro deste ano. Ele deixou três filhos (Bárbara, Bruno e Cristina) além da esposa, a deputada estadual Lucy Soares.

Por Thais Guimarães (GP1)

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