Cultura: Escritor parnaibano faz ensaio sobre obra da escritora mineira, Gracia Castanhede
Diego Mendes de Sousa. TV Senado |
O escritor, poeta, advogado e membro da Academia Parnaibana de Letra, APAL, Diego Mendes de Sousa, escreveu um ensaio sobre a obra, "Felicidades às cegas", da escritora mineira, Gracia Castanhede.Ensaio na Íntegra:
Cabra-Cega (Patuá, 2021), de Gracia Cantanhede, é o reflexo de uma dor universal perceptível à visão humana, em que a realidade de uma nordestina brasileira é escancarada em uma narrativa em primeira pessoa, com recortes fotográficos e cronológicos.
O título da obra foi muito bem urdido, pois a trama anuncia dois elementos identitários transfigurados em uma simbologia que remete imediatamente a uma brincadeira tão presente na infância, mas que aqui (na literatura de Gracia Cantanhede) esconde uma cruel e sofrida história de vida.
A personagem principal, Maria Divina de Oliveira, relata as suas memórias, com a urgência ditada pela opressão do seu massacre existencial. Ela é a cabra, uma mistura de raças, uma filha da roça, com cabresto familiar, é uma qualquer, sem eira nem beira, a conviver com outras cabras: pessoas de temperamento difícil e de caráter duvidoso, ignorantes, alcoólatras e machistas.
Maria Divina, ou apenas Vina, é uma vítima da cegueira social, da sangria desvairada das facas do tempo, cujas lâminas não ofertam destino nem compaixão. Sua personalidade é esfaqueada pelas circunstâncias. Sofre pelos estupros, pelos desastres no amor e pela violência doméstica. Encara a fome, o preconceito, o nomadismo e o abismo. Sente a tragédia, a morte de um dos filhos e a perdição das filhas.
Essa mulher, a verdadeira cabra-cega, é o retrato da barbárie e da desesperança, da adversidade e do enfrentamento ante a sua passividade psicológica, a viver um constante impasse entre a covardia e a coragem de expor as suas desgraças.
Gracia Cantanhede aponta em uma das epígrafes o pensamento de Arthur Schopenhauer: o destino baralha as cartas, e nós jogamos. Vina encontra na fé e na arte as percepções intuitivas que amenizam o seu vagar angustiante pelo mundo.
A felicidade às cegas, quase clandestina e escassa, de epifania e de ascese cristã, é escrita por uma sobrevivente, com intertextualidade, repleta de aparições culturais, a exemplo de Cazuza, Gabriel García Márquez ou Manuel Bandeira, que impregnam o imaginário da narradora Vina.
O livro Cabra-cega possui um estilo fluido, atual e comunicante. Um trabalho bem lapidado, com fortes expressões de uma sociologia interiorana, com um linguajar intransferível e geograficamente mutável, com episódios nas Alagoas, em Sergipe, na Bahia e em São Paulo, a perpassarem de maneira linear, dos anos de 1950 até o hodierno, quando outras ameaças à vida se instauram. A composição é politizada e poética, denunciante e eterna em seu embate de crueza e de beleza.
A romancista, contista e poeta Gracia Cantanhede nasceu em Campos Gerais, no Estado de Minas Gerais. Fez carreira em Brasília, no Distrito Federal, onde vive desde 1972. É Advogada e
Procuradora Federal aposentada. É autora dos livros Palavra de Mulher (1994), Jogo de Persona (1997), Mulheres Apaixonadas (2013), Madonna Chegou (2017), Bacia das Almas (2017), Tanto Faz se for Mentira ou Verdade (2018), Cortina de Contas (2018) e Brasília, Meu Amor (2019). Membro da Academia de Letras de Brasília.
*Diego Mendes Sousa é poeta piauiense. Advogado, Jornalista e Indigenista. Funcionário Público Federal.
O título da obra foi muito bem urdido, pois a trama anuncia dois elementos identitários transfigurados em uma simbologia que remete imediatamente a uma brincadeira tão presente na infância, mas que aqui (na literatura de Gracia Cantanhede) esconde uma cruel e sofrida história de vida.
A personagem principal, Maria Divina de Oliveira, relata as suas memórias, com a urgência ditada pela opressão do seu massacre existencial. Ela é a cabra, uma mistura de raças, uma filha da roça, com cabresto familiar, é uma qualquer, sem eira nem beira, a conviver com outras cabras: pessoas de temperamento difícil e de caráter duvidoso, ignorantes, alcoólatras e machistas.
Maria Divina, ou apenas Vina, é uma vítima da cegueira social, da sangria desvairada das facas do tempo, cujas lâminas não ofertam destino nem compaixão. Sua personalidade é esfaqueada pelas circunstâncias. Sofre pelos estupros, pelos desastres no amor e pela violência doméstica. Encara a fome, o preconceito, o nomadismo e o abismo. Sente a tragédia, a morte de um dos filhos e a perdição das filhas.
Gracia Castanhede Foto de Reprodução |
Essa mulher, a verdadeira cabra-cega, é o retrato da barbárie e da desesperança, da adversidade e do enfrentamento ante a sua passividade psicológica, a viver um constante impasse entre a covardia e a coragem de expor as suas desgraças.
Gracia Cantanhede aponta em uma das epígrafes o pensamento de Arthur Schopenhauer: o destino baralha as cartas, e nós jogamos. Vina encontra na fé e na arte as percepções intuitivas que amenizam o seu vagar angustiante pelo mundo.
A felicidade às cegas, quase clandestina e escassa, de epifania e de ascese cristã, é escrita por uma sobrevivente, com intertextualidade, repleta de aparições culturais, a exemplo de Cazuza, Gabriel García Márquez ou Manuel Bandeira, que impregnam o imaginário da narradora Vina.
O livro Cabra-cega possui um estilo fluido, atual e comunicante. Um trabalho bem lapidado, com fortes expressões de uma sociologia interiorana, com um linguajar intransferível e geograficamente mutável, com episódios nas Alagoas, em Sergipe, na Bahia e em São Paulo, a perpassarem de maneira linear, dos anos de 1950 até o hodierno, quando outras ameaças à vida se instauram. A composição é politizada e poética, denunciante e eterna em seu embate de crueza e de beleza.
A romancista, contista e poeta Gracia Cantanhede nasceu em Campos Gerais, no Estado de Minas Gerais. Fez carreira em Brasília, no Distrito Federal, onde vive desde 1972. É Advogada e
Procuradora Federal aposentada. É autora dos livros Palavra de Mulher (1994), Jogo de Persona (1997), Mulheres Apaixonadas (2013), Madonna Chegou (2017), Bacia das Almas (2017), Tanto Faz se for Mentira ou Verdade (2018), Cortina de Contas (2018) e Brasília, Meu Amor (2019). Membro da Academia de Letras de Brasília.
*Diego Mendes Sousa é poeta piauiense. Advogado, Jornalista e Indigenista. Funcionário Público Federal.
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